São Paulo, 22/06/2016
Conto: “GERUSA”
Autor: Edson Cerejeira
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Ela
caminhava com seu “black” adornando seu espetacular rosto.
Como fosse
uma coroa de rainha da beleza da mulher negra!
Gerusa é seu
nome, porém gostava de ser chamada de “Ge”! Acreditava que assim diminuto e de
som alegre combinava mais com sua espontaneidade, tão natural dela!
De passos
longos das belas pernas que fascinavam os homens! Dona de um remelexo nobre e
sensual em alto salto ia contornando sonhos, rumo a sua nova e tão desejada
empreitada!
Poderia ir
de carro, porém isto retiraria a beleza do dia que queria gravar em sua memória
para sempre.
Pensando na
alegria que poderá vir então fornecer “destinos” mais dignos aquelas crianças e
jovens..., lembranças tentavam invadir seu coração, mas ela as repudiava. Não
porque não sabia reconhecer sua história na vida! Ou negava seu passado!
Simplesmente o momento hoje era de pura alegria!
Era dona de
si! E tinha adquirido uma autonomia onde reconhecia a diferença entre um
assédio inoportuno ou quando uma paquera tinha sabor de amor! E aí de quem a
importunasse!
Foi vítima
de sua de sua extrema beleza e de seu passado tinha medos infinitos!
E
solenemente seu belo sapato fazia um tec..., tec... que a confortava que a confortava
enquanto caminhava...
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Nascida a
primeira de uma prole de mais 5 irmãos, única menina, que logo cedo aprendeu os
serviços domésticos!
Como
qualquer criança gostava de brincar com seus amigos e seus sonhos que na visão
de criança não percebia a pobreza do mangue e suas dificuldades. Seu mundo era
aquele e para ela não havia outro!
A não ser o
que conseguia ver na velha televisão preto e branca e de imagem distorcida!
Aquilo para ela era um conto de fadas somente!
Mas de sua infância
foi roubada as brincadeiras e bobices de menina pequena.
Aos 6 anos
ela limpava, cuidava dos mais novos enquanto a mãe uma senhora amargurada pela
vida saia pelas ruas se oferecendo para limpar ou lavar e passar.
Por vezes
dava uma fugidinha para brincar com a Bia e o Vandesley, e logo, ouvia seu nome
gritado pela mãe e lá corria ela já sabendo das chineladas que iria levar!
Como disse,
aos 6 anos já cozinhava e alimentava e cuidava de seus pequenos irmãos com a
doçura de uma mãe, talvez para supri-los na sua própria carência!
Quando
completou 7 anos sua grande e única expectativa era ir para escola, como alguns
de seus amiguinhos..., mas sua mãe acreditava que isto não traria futuro, uma
mulher tem que cuidar da casa, dos filhos e do marido.
E falando em
marido seu pai, digamos não era exatamente um exemplo do que via nas novelinhas
do final da tarde.
A mãe de
Gerusa, por verdadeira ironia chamava-se Flora, um belo nome de muita doçura!
Soube só
mais tarde que sua mãe ao nascer foi deixada no hospital e de lá para um
abrigo! Não que isso justificasse tanta amargura, acreditava ela.
Porém tudo
que ocorreu devido à está maldade e indiferença, sim!
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Sua mãe foi
uma menina tímida e tinha dificuldades de se relacionar. Transcorrido o tempo
já na adolescência e “em mais uma das muitas fugas” do “abrigo” e ela medrosa que
não participava e se escondia sempre, entre as constantes confusões devido a “precariedade
do sistema”..., mas isso ela não entendia, ouvia isso entre uma conversa e
outra, mas não se importava muito. O medo da fuga a gelava!
Isso
provocava um certo destempero entre suas companheiras!
E num certo
dia, durante colchões queimados e cadeiras e vidros quebrados a pegaram e
jogaram-na pela janela do 2 andar, a chamando de muitos palavrões... E não se
sabe se por sorte ou azar, veio a cair em cima de um capo de um belo Opala azul
que amorteceu a queda e impediu a morte.
Porém a
marcou nos passos e sentimentos por toda vida. Quebrou o fêmur e como o
tratamento médico foi mal aplicado, mancava a cada ano que passava mais e mais
um pouquinho, pois sua perna direita deixou de acompanhar o crescimento da
esquerda!
E então as
chacotas começaram e xingamentos na maldade daqueles espíritos desgastados por
sofrimentos enfim...
Aos 12 anos
passou a ser violentada por um ou dois agentes de segurança e também sofria
abuso de umas garotas mais velhas.
Seu
sofrimento pensava ela, não teria nunca fim, sempre machucada e subjugada a seus
terrores noturnos!
Certo vez
ficou muito doente e diagnosticado a pneumonia foi transferida para um hospital
e pela primeira vez foi bem tratada pelos médicos e enfermeiras que lá
trabalhavam. Aquilo aqueceu seu coração o que fez recuperar sua saúde.
Então
deram-lhe alta e o de transporte e retorno a instituição estava marcado para o
dia seguinte!
Então
enchendo-se de força e a coragem que sempre fora debelada, reuniu energias e de
lá fugiu, para nunca mais!
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Morou nas ruas
e na rua conheceu o Zé que 20 anos mais velho a tomou para si, como quem toma
um gole de cachaça!
E a mulher
que pelo sonoro nome Flora, poderia ter sido transformada num mundo cheio de
flores. Tornou-se “pedra”!
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E logo ela
“trabalhadeira”, conseguiu construir um precário barraquinho próximo ao mangue
que por vezes, sim ou não “Zé”, ia lá catar caranguejos para vender na estrada
abafada do litoral!
E de porrada
em porrada e as ameaças de “Zé”! Trabalhos mal pagos e exaustivos. A tristeza
de não saber se teria comida no prato, fez com que sua alma se endurecesse.
E assim foi
parte da vida de Flora! Até porque nunca esta criatura conheceu outra!
E tudo isso
muito apoiado por “Zé da Bolas”, como era conhecido de tanto passar os dias na
cachaça e na sinuca no Bar do “Tonho”, e de caráter duvidoso!
Daqueles
sujeitos que fazem da amizade somente uma oportunidade de obter algum tipo de
vantagem.
Devia um
pouco para todos e se enrabichava com qualquer uma que lhe desse atenção!
Era
sorridente e até bonito! Mas para sua família era bruto e feio!
E dizia que
vivia bem assim..., sem mais e nem por que e para quê?
Se chegasse
em casa e tivesse cama limpa e comida quente estava bom demais! E repetia como um soar de martelo a todo
momento...
Traste!!! Eu
aqui te tirei das ruas!!! Faça o que mando senão vai ter porrada e quem sabe
desentorto sua perna sua desgraçada!!! E por aí ia...
E mal sabia
este sujeito que quem o tirou das ruas foi ela!
E para
desencanto e sua má sorte, mesmo assim apanhava!
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Aos 7 anos
Gerusa que sonhava ir à escola. Acabou indo para outro “sonho”..., Diante a
negativa da mãe e o desinteresse do pai!
A pequena
foi trabalhar para ajudar no sustento da família.
E foi de
coração apartado, trabalhar numa linda e rica casa, sua função seria de
ajudante nos serviços domésticos. E de lá só tinha uma “folga” a cada quinze
dias e então ia ter a companhia dos seus...
Por sorte ou
maquinações do destino desta pequena e bela menina que por delicadeza e
esperteza ganhou o apreço da senhora para quem trabalhou! E passou então a ser
de mimos a simples “daminha” de companhia!
E esta
senhora que havia sido professora, condoeu-se com o dizer de Gerusa que seu
sonho era ir para escola! E esta viúva e sem filhos pois Deus assim quis...,
Foi lhe mostrando os passos das letras e boas maneiras!
E assim
passarão 5 anos nessa doce ilusão!
Porém quando
esta Sra. Dona Antónia veio um dia a não mais acordar para vida e dessa morte
foi a primeira que a menina já se tornando moça, sentiu profunda tristeza!
Nesta altura
Gerusa já tomava formas de mulher.
E foi assim
solitária e com saudades da sua “amiga”. Gerusa foi e arrumou suas malinhas com
os belos vestidos e acessórios que ganhava da Sra. Antónia.
E quis o
destino o retorno de Gerusa para casa de sua família!
E a miséria
pode fazer coisas terríveis e a fome muitas outras!
Fato que a
realidade era essa e sem mais conversas, sua mãe vendo suas roupas e sapatos de
algum valor sem mais foi e vendeu tudo!
Pare de
chorar menina! Sempre vivi com pouco e não fica bem você se diferenciar de
todos aqui!
Mas mãe!?!
Porém sabia que não adiantava argumentar...
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E Gerusa foi
chorar escondida pois se a mãe assim a visse a “chinela” corria!
No íntimo
Gerusa entendia a amargura da mãe, mas também odiava!
Amava os
seus, mas de pavor vivia todos os dias quando seu pai chegava e nunca sabia
quando iria haver o tormento de pancadas e gritaria!
E quando ia
chegando a noite, se enfiava debaixo do roto cobertor para não ver a mãe assim
se sofrer! E o pai a intimidava com sua forma de olhar!
Fazia
pequenos trabalhos de faxina em algumas casas nos bairros mais ricos e como
adorava ler e agradecia a Sra. Antónia nesses momentos essa única herança! E
nos caminhos de ida e volta ia colhendo de um lixo aqui e um acolá revistas e
livros... e o tempo foi indo seguindo seu caminho!
Aos 13 anos
era alta e esbelta e atraia olhares por onde passava..., Que ela ainda tão
inocente não entendia pois não pensava em tais coisas!
A não ser
seu amigo de infância agora um rapagão! O Vandesley se tornou um jovem bem
forte, bonito e muito divertido.
Gerusa
sentia-se bem em sua companhia!
E como o
tempo de fato passa Gerusa começou a estranhar as companhias que Vandesley
andava. E disso ela não gostava!
Aos 16 ele
já roubava, tinham a mesma idade os dois.
Porém vinha
de uma família onde os “negócios” e “ganha pão” funcionavam assim...
Hora
aparecia uma televisão! Hora um aparelho de som! Hora uma bicicleta... Ele
menino ainda ficava encantado com tantos “presentes” que seus irmãos mais
velhos traziam.
Porém hora
desaparecia um ou outro e tudo se reciclava assim dessa maneira!
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E quando
seus irmãos bem mais velhos saiam para “trabalhar” é o que diziam. E era o que
o pequeno pensava. Só não entendia ao certo a agonia da mãe! Que falava aflita,
meus meninos não façam isso mais vão matar sua mãe de desgosto! Mas no amor de
mãe os beijava no rosto e os abençoavam.
3 eram os
irmãos mais velhos.
Um sumiu
quando foi preso por latrocínio e ia lá vez outra com sua mãe visita-lo e via
nos seus olhos a desesperança que causa a falta de liberdade!
Um outro
algum tempo depois a mãe o sepultou...
O que sobrou
foi Valdizio, e como Vandesley ia crescendo este dizia cheio de traquejo quer
ganhar um tênis novo? Leva isso aqui escondido lá na porta da escola, lá no
bar, lá na praia e assim foi ele levando e trazendo um dinheirinho.
Assim as
drogas e o tráfico, adentrou em sua vida!
E até
consegui ele comprar uma pequena moto para aumentar os negócios e conseguia
boas roupas!
E assim
Vandesley, foi vivendo para o mundo!
E com Gerusa
era um cavalheiro encantador, dessas coisas do amor que faz os homens
amolecerem!
Certo dia
havia recebido como pagamento uma gargantilha que provavelmente havia sido
roubada, toda fininha de ouro, delicada e linda!
E Vandesley
foi e a presenteou.
Ela viu
nisso um misto de arrepio e romance. E foi assim seu primeiro beijo que ele
roubou dela, por uma gargantilha roubada!
E nessa
realidade passarão a se ver com a eternidade dos apaixonados!
E o namoro
assim começou!
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E a mãe,
contrariava esse namoro mas o pai que tinha interesse em tomar algumas cachaças
de graça e alguma mistura e carne para os pequenos churrascos que Vandesley as
vezes nos domingos inventava!
Olá aqui é o Edson Cerejeira... por
hoje ficamos por aqui... mas teremos novas páginas e desdobramentos.
Agradeço. Abraços
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E a mãe,
contrariava esse namoro mas o pai que tinha interesse em tomar algumas cachaças
de graça e alguma mistura e carne para os pequenos churrascos que Vandesley as
vezes nos domingos inventava!
Olá aqui é o Edson Cerejeira... por
hoje ficamos por aqui... mas teremos novas páginas e desdobramentos.
Agradeço. Abraços
CONTINUANDO
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Mas numa
certa noite, uma sirene com luzes vermelhas coloriram seu quarto! Seu coração
disparou após um disparo de arma! Ouviram-se gritos e correria e mais tiros,
ela se encolheu dentro de seu coração de medo e estranho pressentimento.
E de repente
um silencio incompreensível. Ela se vestiu de coragem! E saiu correndo
encoberta pelo cobertor.
E então a
força da tristeza se apoderou de Gerusa e a alegria fugiu dos seus olhos ao ver
seu primeiro amor, estendido ao chão. Coberto de sangue e pólvora!
Por dias e
dias Gerusa sentia sua alma gelada e pensou estar ficando como a mãe! Mas nada
parecia se importar.
E como o
tempo leva nossos pensamentos e sentimentos com os passares do vento!
Passaram-se muitos dias e noites... e a dor extrema foi se transformando numa
saudade que carrega lembranças em nossos dias.
Apesar de
ter tido inúmeros pedidos de namoro, ela sentia ainda Vandesley no seu coração
tão jovem e abatido!
Ia
trabalhando aqui e acolá e em casa ela e sua mãe sustentavam de forma precária
a todos!
Quando sua
mãe recebeu uma proposta de trabalho, para doméstica mas havia de ter que morar
no serviço. O pagamento que receberia poderia
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amenizar as
dificuldades! E assim ela foi.
E os
cuidados da casa ficou na responsabilidade de Gerusa. Que agora assumia o papel
da mãe!
Num certo
dia destes que realmente gostaríamos que jamais devessem existir.
Era um dia
comum, limpou a casa, cuidou dos irmãos e foi lavar roupas, fazia calor...
Entre
esfregar e enxaguar e torcer sob o sol a pino, estava Gerusa com seu velho
vestido, molhado e suado, colado ao corpo e esperanças perdidas entre sabão e
mãos que já tinha pequenos calos!
Pensava
neste momento em como poderia sair e mudar sua vida.
Queria ser
professora, pensava ela. E lembrava-se de Dona Antónia, elegante, inteligente e
boa...
Neste tempo
chegou seu pai, bêbado e tropeçando em si mesmo e vendo sua filha mulher já
formada e linda como nenhuma mulher dali... Numa arrebate induzido pelo diabo
que dentro dele morava, foi e pegou um facão e chegou e a agarrou por trás e
ameaçando cortar sua garganta se
gritasse e se não cedesse aos seus mais podres instintos..., Ele a mataria e
mataria seus irmãos e fugiria para nunca mais o acharem.
Seu pavor
nem preciso dizer, suas pernas amoleceram e pensou em querer morrer. Nojo e
terror a fizeram vomitar pelo cheiro da pinga, do suor dele e da moral que nele
não existia!
E este
pânico se repetiu inúmeras vezes.
E estes atos
atrozes fazia-a sentir-se em pecado, suja e culpada!
E seus
sonhos deixaram de existir e sua vontade de viver tirou longas férias. Passou a
definhar, perdeu o brilho da juventude!
E o pecado
anunciou sua consumação.
E dentro da
magreza que transformou seu corpo e sua fé em um cisco e despontaram os
indícios do pior quando os cheiros a faziam vomitar.
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27/06/2016
GERUSA POBRE
MENINA FOI ENGRAVIDADA!!!
Ela ao
contar para mãe, todo seu sofrimento e abuso e que não aguentava mais e que
sentia ter sido engravidada para seu terror de seu próprio pai..., Sua mãe enlouqueceu!
Gritava e
batia nela, VAGABUNDA... VAGABUNDA... VAGABUNDA... É MENTIRAAAAA!!!!!
Gerusa sem
entender apanhava e pedia pelo amor de Deus mãe ele é um monstro, vamos fugir
ele vai matar a nós todos...
Seus apelos
e desespero de nada adiantaram!
O seu
destino é querer ser uma PUTAAAA berrava a mãe...
E assim sem
mais nem menos... pegou as poucas roupas de Gerusa e jogou-as no lodo. E diz é
nessa lama que você vai viver, igual essas suas roupas, SUMAAAAAAA... NUNCA
MAIS VENHA AQUI ESTRAGAR NOSSAS VIDAS!!!
Você me
odeia e odeia todos aqui, se sente melhor que a gente, engravidou de algum
vagabundo por aí...
E quer dizer
essa atrocidade de seu pai. Que lhe deu abrigo e comida!
E foi
chutando e estapeando então assim Gerusa ficou à mercê do mundo!
Machucada na
alma e no corpo e sem direção Gerusa foi sem ter o que pensar na casa de uma
“curandeira” lá nas redondezas, pois ouvia que ela desses problemas entendia. Assim
foi dito por uma vizinha sua que conversava com sua mãe numa ocasião passada, quando
esta foi lá abortar porque os filhos já eram muitos e não queria ver mais um
rebento seu sofrer!
E assim foi
lá toda temerosa.
A recebeu
uma senhora gorda e se avental sujo enxugando as mãos em panos sujos também.
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11 27/06/2016
Dona Maria
falou secamente entre menina. Mas Gerusa desmaiou ali no alpendre. Quando
acordou a senhora a olhava sisuda!
Que acontece
menina? Fica dando por ai e agora quer tirar seu pecado pela raiz... Tem
dinheiro? Perguntou friamente.
Gerusa mal
conseguia falar, sentiu medo, balbuciando e chorando foi contando como isso
aconteceu. E que dinheiro não tinha nenhum e nem mesmo lugar para ir.
A mulher
conhecia o mal caráter do pai dela, outras mulheres meninas da idade dela já
tinham sido vítimas desse homem. E assim como para compensar os terrores de que
vivia... compadeceu-se de Gerusa por ter sido violada e embuchada pelo pai! E
fez o sinal da cruz diante este pecado!
E assim a
mulher lhe deu muitas doses de pinga e perfurou seu útero com a ponta de uma
agulha que mergulhou na pinga e perfurou seu útero.
Jorrando
assim a dor, o pecado e o fruto do pecado! Mas também estava jorrando a vida de
Gerusa pois a sangria não cessava!
E assim
quase morta ficou perdendo a maternidade que para ela nunca mais viria a
existir!
Dona Maria
ironicamente “Maria” nome de santa e mãe de Jesus, desesperou-se a menina
apresentava febre que não passava.
E se ela
morresse ali estaria encrencada! Desesperou-se.
Levou-a
dentro de uma carriola para um barraquinho distante onde morava Dona Francisca
uma boa senhora! Sua irmã que inclusive condenava a forma como ela ganhava a
vida!
E aceitou
cuidar da menina! Era benzedeira e iria curá-la!
Por bondade
assim se fez e Gerusa passou a se recuperar!
Dona
Francisca como benzedeira era muito procurada e por seus conhecimentos e sua
imensa fé era agraciada com com agrados de reconhecimentos. Ganhava alguns
poucos alimentos que as vezes a mantinham alimentada.
Olá aqui é o Edson Cerejeira....
amanhã continuaremos, grande abraço a todos
Página
12 28/06/2016
Gerusa após
o aborto traumático sem ter por onde ir e ainda enfraquecida e por bondade de
Dona Francisca, aboletou-se por ali.
Dona
Francisca de tão senhorinha era toda plissada nas coisas da velhice, frágil
como um passarinho e tão terna quanto um!
Vivia só e
sua única distração era o radinho a pilha que as vezes funcionava e também
tecer com suas pequenas e tremulas mãos colchas e fronhas e toalhas com
maestria e beleza! Assim ganhava a vida e muitas senhoras da parte rica faziam
pedidos para adornar seus sonhos.
Certo era
que pouco pagavam! Mas mesmo assim daí vinha o sustento!
Dona
Francisca era devota de Nossa Senhora Aparecida e tinha um relicário pequeno e
lá estava a imagem da Santa com seu manto azul ricamente por ela bordado.
E seu único “pecado”
era acender a vela para iluminar suas orações todos os dias as 18:00 horas e as
06:00 horas...,
Assim
rezava, e dando por encerrada suas preces ia lá e de coração partido apagava a
vela. Está era-lhe cara... então assim pedia perdão todos os dias a digna
Santa! Por este “pecado”. Pois dentro da sua fé sabia que a Santa lhe
perdoaria, posto então que esta muita luz tinha.
Gerusa
recuperou-se lentamente seu corpo físico e seguindo o exemplo de fé de Dona
Francisca foi através das orações recuperando sua alma também.
Gerusa foi
com ela aprendendo a arte de bordar e vendo que a moça tinha jeito para este
tipo de beleza, foi falar com Dona Margo uma senhora cliente sua, que sempre
lhe enviava vestidos para bordar.
Sendo assim
recomendou Gerusa já totalmente recuperada para lá na sua fábrica trabalhar!
Falou dos seus apuros e a mulher então chamou-a para conversar.
Era esta
proprietária de uma pequena confecção.
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28/06/2016
Margo ficou
impressionada com a beleza e carisma e a forma polida com que Gerusa se
expressava.
Contratou-a
com um baixo salário porque não podia muito oferecer, mas ofereceu um quartinho
lá nos fundos onde lá já morava duas costureiras, e assim sua vida foi se
encaminhando.
Fazia suas
tarefas de serviços gerais e passava as roupas recém costuradas e organizava os
pesados fardos de tecidos no estoque.
E para poder
economizar a noite bordava vestidos e assim ia a vida!
Se ela tinha
planos. Não ela os perdeu no caminho da curta vida!
E assim
passou meses nas mesmices diárias.
De tanto ir
e vir varrendo, recolhendo Gerusa observava as costureiras trabalhar e aquilo
lhe chama a atenção. Os moldes, os tecidos, os figurinos tudo lhe era atraente.
Observava também Dona Margo estilizar no papel as roupas a serem feitas.
E de curiosa
passou a rabiscar de início quando um tempinho lhe sobrava os seus. Fazia isto
escondida pois usava os papéis e lápis do ateliê.
A princípio
aquilo só era pura distração, mas foi desenvolvendo e virou obstinação! E todos
os dias desenhava 2 ou 3 e até 4 figurinos.
Guardava
tudo como um segredo dentro de uma caixa em seu pequeno armário.
Quando dava
pegava os retalhos que iam para o lixo, selecionava e no meio da madrugada ia e
costurava e assim costura seus sonhos que ainda estavam por serem sonhados.
Até que num
certo dia houve um assunto da “divina providencia”!
O escritório
foi assaltado, abriram o cofre e levaram tudo de valor inclusive o pagamento
dos empregados que seria no dia seguinte.
Foi um Deus
nos acuda!
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14 28/06/2016
Parou a
produção e todos foram interrogados!
Margo ficou
enlouquecida! A polícia constatou que não houve arrombamento nem de janelas e
portas e nem mesmo do cofre e era certo que alguém lá de dentro isto havia
feito e sabia até mesmo o segredo do tal cofre!
Indagações e
intimações de dar medo e Gerusa tremia.
E começaram
a revistar uma por uma das costureiras e Gerusa temia que ao abrirem seu
armário e Margo ao constatar que ela usava os materiais da fábrica para
desenhar iria com certeza demiti-la.
E assim foi
feito um policial e Margo foi de armário em armário e nada... Até que Margo
lembrou-se do quartinho em que moravam as 3 funcionárias!
E para lá
foram, Gerusa tremia de nervosa, pois diz o ditado que quem rouba um lápis
rouba milhão. Mas ela não os roubava só usava e devolvia para o lugar que
estavam.
Poderia até
ser presa porque alguém nela acreditaria!
Aberto o
pequeno guarda roupas de Gerusa onde havia uma caixa pesada o policial
imediatamente falou:
Pronto
achamos a quem pertence este armário desta ladra!
Margo
horrorizada olhou para Gerusa e disse então:
Não acredito
que foste capaz de tamanha desfaçatez... Lhe dei emprego e teto! E isto que
recebo em troca.
Gerusa ia
falar, mas Margo foi imediatamente abrir a caixa e ficou paralisada com o que
viu.
Lá não
estava o dinheiro, mas sim o talento de Gerusa! E esta tremendo ainda...
E assim a
dona da Confecção estatelou os olhos diante de cada desenho, de cada detalhe
que revelava o talento da moça! A ponto de quase esquecer do dinheiro do
assalto!
Olá, aqui é o Edson Cerejeira, amanhã
postarei as últimas páginas.
Obrigado e grande Abraço. Até...